Curvas no espaço
Vimos que as curvas no plano são essencialmente definidas por sua curvatura. Porém, isso não é verdade no espaço. Considere, por exemplo, a hélice circular Ela está parametrizada pelo comprimento de arco. Então, se formos calcular a curvatura (usando a mesma noção de curvas planas), teremos que Entretanto, a hélice não é uma circunferência de raio 1! Para isso, vamos precisar introduzir o conceito de torção. Veja também que não é possível definir uma função ângulo! Então, curvatura com sinal é um conceito vago no espaço. Assim, para lembrar, definimos curvatura para uma curva parametrizada pelo comprimento de arco no espaço como
Se a curva é regular qualquer, seja uma reparametrização pelo comprimento de arco. Definimos a curvatura de como Em particular, teremos que
Dizemos que uma curva é 2-regular (ou regular de sgunda ordem) quando os vetores e são linearmente independentes para todo . Se a curva for parametrizada pelo comprimento de arco, isso equivale a dizer que (verifique!). Se a curva for regular, isso é equivalente a provar que (verifique!).
Triedo de Frenet
Já vimos que não faz sentido rotacionar o vetor tangente. Por isso, definimos o vetor normal principal de uma curva parametrizada pelo comprimento de arco como onde . Veja que ambos os vetores são unitários e ortogonais (quando a curva é parametrizada pelo comprimento de arco, a primeira e segunda derivadas são ortogonais). Definimos, então o vetor binormal como De fato é ortogonal a e a e, além disso,
Definimos, portanto, uma base ortonormal para .
Torção
Observe que
Como m, então
Como é um vetor unitário, (veja que isso acontece com qualquer função vetorial unitária). Além disso pela equação acima. Pelo Triedro de Frenet,
chamamos de torção. Alguns livros, tem o sinal oposto (mas isso é só questão de convenção e não trás problemas teóricos. Mais uma vez, se a curva é uma curva regular, tomamos uma reparametrização pelo comprimento de arco e
Em especial
Equações de Frenet
Já sabemos que e . Agora, vamos calcular . Sabemos que
Portanto,
Chegamos então que, se é uma curva parametrizada pelo comprimento de arco regular de ordem 2, então
Observe que se , onde
Para curvas regulares quaisquer, a definição se dá usando a inversa do comprimento de arco, como fizemos com a curvatura e a torção.
Planos
Plano Osculador: Determinado pelos vetores tangente e normal. O vetor binormal é normal ao plano osculador e, portanto, podemos escrever sua equação como .
Plano Normal: Plano determinado pelos vetores normal e binormal.
Plano Retificante: Plano determinando pelos vetores tangente e normal.
Alguns simples desenhos podem ser vistos nesse site.
Consequências
Curva plana e torção nula
Seja uma curva 2-regular, parametrizada por comprimento de arco. Então, é plana se, e somente se, sua torção é identicamente nula.
A demonstração desse fato se divide na ida e volta. Supondo que a curva seja plana, devemos inserir a curva em um plano. Assim, para cada para algum nesse plano. Em particular, obtermos que , pois obteremos, derivando, que a tangente e a normal são ortogonais a . Nesse caso , pois esse vetor será constante. A recíproca usa o fato que será constante e quer se provar que .
Circunferência e curvatura constante
Seja uma curva parametrizada pelo comprimento de arco em com consntate curvatura e torção nula. Então é parametrização de (parte de) um círculo.
Sabemos pelo item anterior que estaremos em um plano. A ideia é provar que é um vetor constante para provarmos que a curva está contida em uma esfera. Assim, basta provar que a curva está contida na intersecção de uma esfera e um plano.
Teorema Fundamental da Teoria Local das Curvas Espaciais
Sejam e duas curvas parametrizadas pelo comprimento de arco em com a mesma curvatura e a mesma torção . Então, existe um movimento rígido direto tal que . Além disso, se e são funções suaves, tal que em toda parte, existe uma curva parametrizada pelo comprimento de arco em cuja curvatura é e cuja torção é .
A demonstração desse teorema super importante pode ser encontrada na página 52 do livro do Pressley de Introdução à Geometria Diferencial. É uma aplicação do Teorema da Existência e Unicidade de Equações Diferenciais nas Equações de Frenet-Sarret.