Espaços métricos
Queremos introduzir o conceito de distância entre pontos em um espaço. Com isso bem definido, a noção de limite, fundamental para a área da Análise (e talvez um dos pontos que mais a distancie da Álgebra), fica bem entendida, já que estamos dizendo que uma sequência de pontos se aproxima cada vez mais de um ponto do espaço. A ideia de se aproximar se conecta naturalmente com a distância entre os pontos diminuir.
Definição: Seja um conjunto qualquer e uma função que satisfaz, para quaisquer , as seguintes propriedades:
(1) e se, e somente se, , isto é, a distância é sempre positiva, a menos quando a medidos de um ponto a ele mesmo, o que naturalmente queremos que seja zero;
(2) , isto é, a distância entre dois pontos independe da ordem com que se inicia a medida;
(3) , a desigualdade triangular.
Chamamos a função de métrica e o par de espaço métrico.
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Exemplo (Métrica trivial)
Considere um conjunto qualquer e defina para ,
É claro que as condições (1) e (2) são satisfeitas. A condição (3) também é trivial no caso em que . Se , note que , pois ou , dado que não pode ser simultaneamente igual a e .
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Exemplo (Métrica - Norma 2)
Seja e considere para , conhecida como norma-2 no estudo de Álgebra Linear. Mais uma vez, as condições (1) e (2) são triviais. Já a condição (3) é um pouco mais complicada e pode ser demonstrada usando a desigualdade de Cauchy-Schwartz.
Outras métricas podem ser definidas nesse espaço como a norma 1 ou a norma infinito.
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Exemplo (Métrica - Norma infinito para funções contínuas)
Seja , o espaço das funções contínuas definidas no intervalo e considere para , O primeiro passo nessa métrica é demonstrar que ela está bem definida, isto é, será que a função tem máximo no intervalo ? Sabemos que sim pelo Teorema do valor extremo. As condições (1) e (2) para que seja métrica são trivialmente satisfeitas. Já a terceira condição é consequência da desigualdade triangular da métrica definida nos reais. O que acontece com funções não contínuas? E se trocarmos o máximo pelo supremo?
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Exemplo (Pseudo-métrica)
Seja e defina para , É claro que satisfaz as condições (2) e (3) e que . Todavia, não implica que , só fazer para verificar esse fato. Chamamos funções que satisfazem (2) e (3), mas não satisfazem essa parte da primeira propriedade de pseudo-métrica.
Noções topológicas
Seja um espaço métrico. Vamos definir alguns conceitos importantes de topologia segundo o ponto de vista de espaços métricos:
Bola aberta: Tome e , então a bola aberta de centro e raio é o conjunto .
Ponto interior: Tome . Dizemos que é ponto interior de se para algum , . Definimos o interior de como o conjunto .
Conjunto aberto: é conjunto aberto se .
Seja a família de conjuntos abertos de . Então satisfaz:
(i) e .
(ii) Se para sendo um conjunto de índices arbitrário, então .
(iii) Se para , então .
Observação: Podemos definir uma Topologia partindo de (i)-(iii) como axiomas.
Observação 2: Se considerarmos o item (iii) com , a propriedade não vale! Para isso, basta considerar .
Ponto de aderência: Um ponto é um ponto de aderência de um conjunto se para qualquer , . O conjunto desses pontos é chamado de fecho e é denotado por .
Em particular, a partir dessa definição, podemos concluir que (i) , (ii) se , então , e (iii) .
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Exemplo (Espaço e funções contínuas)
Seja , o espaço de funções Lebesgue mensuráveis definidas em que satisfaçam com métrica para definida por Se é o conjunto das funções contínuas em , sabemos que . Além disso, . Dizemos que é denso em (veja esse link).
Ponto limite (acumulação): O ponto é ponto limite de se, e somente se, para todo , contém infinitos pontos. O conjunto desses pontos é o conjunto derivado e é denotado por . Um ponto que não é limite é chamado de ponto isolado.
Convergência: Seja uma sequência de pontos. Dizemos que converge para o ponto se para todo , existe tal que implica . Nesse caso, denotamos por . Logo, a definição de convergência é equivalente a afirmar que nos reais.
Uma consequência dessa definição é que se, e somente se, existe uma sequência tal que para todo e .
Conjunto fechado: Dizemos que é fechado se contém todos os seus pontos limite, isto é, . De forma equivalente .
Teorema (relação entre conjuntos abertos e fechados): é fechado se, e somente se, é aberto. Esse teorema permite usar as propriedades de abertos para fechados através da lei de DeMorgan.
"How often have I said to you that when you have eliminated the impossible, whatever remains, however improbable, must be the truth?" - Sherlock Holmes. (Quantas vezes eu falei para você que quando você eliminou o impossível, qualquer coisa que sobra, mesmo que improvável, deve ser verdadeiro? - tradução livre)
Continuidade
Sejam e dois espaços métricos e uma função. é dita contínua no ponto se para qualquer , existe tal que A função é contínua em se for contínua em todos os pontos de .
Intuitivamente, estamos dizendo que a função mapeia uma vizinhança de suficientemente pequena em uma vizinhança arbitrariamente pequena de , isto é, por mais pequena que seja a vizinhança tomada de , a função é tão "regular", que ela encontra uma vizinhança de para mapear na de . Por vizinhança de , queremos dizer um conjunto aberto que contenha . De forma equivalente, uma bola aberta de centro .
Teorema: é contínua no ponto se, e somente se, para todo sequência de pontos com , vale que .
Um rascunho para a demonstração é o seguinte:
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(Necessidade): Suponha contínua e tome . Nesse caso, para todo , existe tal que . Para suficientemente grande, teremos que e, portanto, . Como é arbitrariamente pequeno, .
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(Suficiência) Tome . Suponha que para todo , exista tal que isto é, , mas . Está claro que , mas , o que implica que não é contínua em . Provamos pela contrapositiva.
Outra equivalência com continuidade é a seguinte:
Teorema: A função é contínua se, e somente se, para todo conjunto fechado (aberto), é fechado (aberto) em .