Conceitos introdutórios

Chamamos de espaço amostral o conjunto de todos os possíveis resultados de possíveis de um experimento. Por exemplo, os resultados possíveis de uma jogada de dado de 6 lados é . Já os eventos são os subconjuntos de . Em geral, eles são uma afirmação do tipo observa-se algo. Por definição, é o evento certo, enquanto é o evento impossível.

Algumas notações clássicas para eventos:

A próxima questão é como atribuir probabilidades ao eventos, isto é, como definir uma função que a cada evento associe um valor numérico entre e . Um evento ao qual se atribui uma probabilidade é chamado de evento aleatório. A Teoria da Medida é a ferramenta para formalizar esse conceito. Uma álgebra de subconjuntos de é um conjunto de subconjuntos de que satisfaz as seguintes propriedades:

  1. ;
  2. Se , então ;
  3. Se , então .

Com essas propriedades temos que, por consequência, e união e interseção finitas de conjuntos de pertence a (aplicação do princípio da indução e lei de De Morgan).

Estendemos uma álgebra para uma -álgebra com a seguinte propriedade:

  1. 1 Se , então .

Vale lembrar que esses são os axiomas que definem os eventos a que vamos atribuir probabilidades. Além do mais, o Teorema da Extensão, que pode ser encontrado no primeiro livro aqui, permite que primeiro definamos probabilidade em uma álgebra e isso automaticamente define na -álgebra correspondente de forma única. Probabilidade, no sentido que conhecemos hoje, tem uma construção axiomática e é dada por Kolmogorov:

  1. ;
  2. ;
  3. Se são disjuntos, então

O terceiro axioma é nomeado de propriedade -aditividade da probabilidade. Alguns trabalhos teóricos substituem a união infinita de conjuntos pela finita, obtendo a aditividade como axioma apenas e, portanto, restringindo um pouco a sua aplicabilidade. Com as três propriedades acima, temos uma medida de probabilidade.


📝 Exemplo de -álgebra

Considere o experimento de selecionar um ponto em ao acaso. Seja a -álgebra formada por todos os subconjuntos cujo comprimento esteja definido. Iniciamos com . É fácil ver que é álgebra, mas não é -álgebra. Por exemplo, o conjunto Esse conjunto não está em , mas podemos calcular seu comprimento usando séries. Assim, é o comprimento de . Outro conjunto que não está em são os dos números racionais, ou dos números irracionais. De fato, temos que é o comprimento desse conjunto, pois temos uma união enumerável de intervalos degenerados , que tem comprimento .

Nesse caso, para os reais, usamos a -álgebra de Borel, cujos elementos são os borelianos. Ele é a menor -álgebra que contém todos os intervalos abertos. Assim, uniões e intersecções enumeráveis e seus complementares estarão também na -álgebra.



📝 Um conjunto sem probabilidade

Considere o experimento anterior e tome . Podemos supor que para .

Para manter a uniformidade, podemos supor que em que .

Proposição: Não existe uma definição de para todos os subconjuntos que satisfaçam o conceito de probabilidade e a translação acima mencionada.

O resultado dessa proposição é por contradição é usa o famoso Axioma da Escolha. Defina a relação de equivalência em por se é racional. Isso relação particiona o intervalo em subconjuntos disjuntos, visto que, se e , então e . Defina como um conjunto que contenha exatamente um elemento de cada classe de equivalência, o que pode ser obtido pelo Axioma da Escolha. Assuma que e, caso esteja, troque-o por , visto que . Com isso, note que (para cada , seja seu representante de classe em e tome ). Além do mais, são disjuntos dois a dois. Caso contrário, e, portanto, e o que é um absurdo. Logo P(H)$ não pode estar definido.


Propriedades da probabilidade

Algumas propriedades da probabilidade são

  1. para ;
  2. ;
  3. (para uniões enumeráveis não necessariamente disjuntas.);
  4. Se para todo e , então .

Um modelo probabilístico inclui definir um espaço amostral, uma -álgebra e uma probabilidade, o que define um espaço de probabilidade .

Probabilidade condicional

Seja um espaço de probabilidade. Se e , dizemos que a probabilidade de condicional em é definida por Podemos verificar que define uma medida de probabilidade também.

Com essa definição, é possível demonstrar (usando indução em ) que

Observação: Se , essa definição de probabilidade condicional não serve. Por exemplo, se condicionarmos num evento do tipo "sorteie um número entre e ao acaso", esse evento pode acontecer, mas tem probabilidade . Nesse caso, uma definição mais precisa é necessária, apesar de ser um tanto mais complicada. Em particular ela vai envolver esperanças e condicionais em variáveis aleatórias.

Teorema da Probabilidade Total: Se a sequência forma uma partição de , isto é, são disjuntos dois a dois, mas a união deles forma , então

A partir dela, podemos chegar na Fórmula de Bayes:

Independência

Dizemos que os eventos e são independentes se Uma consequência direta dessa definição é que se e são independentes, então e também o são.

Para uma coleção de eventos , dizemos que eles são independentes 2 a 2 se satisfazem a propriedade acima 2 a 2. Mas para dizermos que essa coleção é independente, temos que exigir que toda subfamília finita de eventos satisfaça Alguns se referem a essa propriedade como independência estatística.